quinta-feira, 5 de abril de 2012

Uma questão de berço

Na 5a feira passada aconteceu uma pequena crise no meu laboratório: um dos computadores onde guardamos muita informação pura e simplesmente deixou de funcionar. Mesmo com toda a redundância que tem, parecia ter encomendado a "alma" ao criador. Um dos meus colegas apercebeu-se disso e veio informar-me do sucedido. Como quem diz, vê lá o quê que se passa que eu não faço ideia... É impressionante a iliteracia desta gente no que diz respeito a computadores. Vivem rodeados de máquinas, fazem estudos de doutoramento numa área designada por "computer vision and machine learning", no entanto são incapazes de identificar os componentes mais básicos de um computador. Muito menos resolver problemas mais ou menos complexos que estes apresentem. 
Sou, já desde há algum tempo, o bombeiro de serviço no meu laboratório. Talvez porque tenho mais à vontade com as máquinas, mas acima de tudo porque cedo me apercebi que se não as cuidarmos ninguém o vai fazer por nós. Estamos por nossa conta e risco! E por isso é bom conhecer os recursos computacionais ao nosso dispôr e acima de tudo fazer uma manutenção preventiva que nos evite sarilhos (como este, que verdade seja dita estava só à espera de acontecer). Ao fim de 4 dias a mandar cabeçadas lá resolvi o problema. Domingo ressuscitei a dita máquina. Não sem óbvios contratempos para todos (e.g. alguma informação irremediavelmente perdida, dias de trabalho perdidos, etc). Ainda a quente mandei um email a explicar tudo o que tinha acontecido e aquilo que fiz para corrigir os diversos problemas que foram aparecendo. Evitei acusar quem quer que fosse, até porque não me parece que haja alguém responsável pelo sucedido. 
Felizmente temos um sistema de backups para minorar os estragos neste tipo de situações, pensei eu. Não poderia estar mais errado, pois o coleguinha que deveria tratar disso fez o último backup em Outubro do ano passado! Escusado será dizer que fiquei furioso. Não é a primeira vez que estas coisas acontecem, e ninguém, exceptuando a minha pessoa, parece ter algum sentido de responsabilidade colectiva. Todos temos pequenas tarefas para o bem comum, ortogonais ao nosso programa de estudos. Desleixar a manutenção dos recursos que temos é prejudicar o nosso doutoramento e se todos fizermos um bocadinho a tempo e horas, evitamos estes problemas maiores.
Agradecimentos por passar 4 dias a resolver problemas que afectam todos, não tive. Ou melhor, minto, um ex-colega que mal conheci (doutorou-se quando eu estava a chegar aqui, em 2008), mandou-me um email a dar os parabéns pelo bom trabalho. Ele que já nada ganha ou perde com tudo isto...
Toda esta história só para concluir o óbvio: a gratidão é um valor muito bonito. Pena que rareie nestas elites intelectuais. Não exige raciocínio, não se aprende nos livros e certamente não se pode comprar. É uma questão de berço... ou se tem, ou se não tem! 
Agradeço aos meus Pais que fizeram o favor de me educarem no valor da gratidão.

PS- perdoem-me este desabafo, mas já não é a primeira vez que estas coisas acontecem e suspeito que não será a última da minha vigência...

3 comentários:

PM disse...

Eh pah, quer se queira quer não,somos provenientes de um pequeno país, mas a nossa educação, graças a Deus e aos nossos Pais é bastante acima da média cara...:)um forte abraço e obrigado por seres meu amigo:)

MML disse...

Lembraste-me um conhecido orador Português, quando, nas suas ostensivas conferências, contava, que na época que as grandes potências se faziam ao mar, todas queriam levar um Português a bordo. Porque, quando o mar se levantava revoltoso e os céus ordenavam que o mastro partisse, o leme se avariasse e o cordame se soltasse, chamavam o dito Português que, com uma rolha, um arame e uma lata de sardinhas, resolvia tudo e ainda corrigia erros de construção!
Quanto a gratidão, apesar de o sentir como tu, meu caro, desesperarás, mesmo que sentado.

Luís disse...

Como eu te entendo Zé, mas deixa lá que isso é mal que começa a ser geral (infelizmente). As elites, políticas/mandantes, esquecem-se sempre do sustentáculo de uma organização...

Abraço,